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quarta-feira, 8 de julho de 2015

Nosso Cromo de Cada Dia: Benefícios e Riscos na presença de nossa alimentação.

Nosso Cromo de Cada Dia:Benefícios e Riscos

B.F. Giannetti, C.M.V.B. Almeida, S.H. Bonilla e O. VendrametoLaboratório de Físico-Química Teórica e Aplicada
Instituto de Ciências Exatas e Tecnologia da Universidade Paulista
R. Dr. Bacelar, 1212, CEP 04026-002, São Paulo, Brasil


Este artigo tem o objetivo de chamar a atenção do leitor sobre os benefícios e riscos do cromo. Este composto, que silenciosamente faz parte de nossas vidas, tem uma relação importante com nossa saúde, parte de nossa economia e o meio ambiente. Os exemplos citados tem a intenção de informar e de esclarecer sobre o tema como um reflexo da preocupação de parte da sociedade com a sustentabilidade das gerações futuras. O artigo foi escrito de forma que os itens possam ser lidos de forma independente segundo o critério do leitor.
A presença do cromo na alimentação
O cromo é um elemento traço essencial (mas também tóxico) para o ser humano. Este elemento químico se encontra naturalmente no solo, na poeira e gases de vulcões. No meio ambiente são três os números de oxidação do metal: cromo(0), cromo(III) e cromo(VI). Cromo(III) tem ocorrência natural no meio ambiente, enquanto cromo(VI) e cromo(0) são geralmente produzidos por processos industriais.
Cromo(III) faz parte do centro de biomoléculas que se encontram em pequeníssimas quantidades em nosso organismo. Sua principal função está relacionada ao metabolismo da glicose, do colesterol e de ácidos graxos. Nosso cérebro se nutre de glicose, e sem este alimento, nossa mente sofre sérios distúrbios. Se nosso corpo não pode metabolizar glicose, nosso fígado não pode produzir glicogênio, que é a energia de nossos músculos.
Os alimentos podem ser uma fonte de cromo na quantidade necessária ao nosso organismo. Na gestação, o organismo das mães necessita de cromo em maior quantidade, principalmente, para ser transferido à criança. Uma criança sadia terá a quantidade necessária de cromo até os dez anos de idade. Após este período o organismo necessita ingerir cromo.
A alimentação moderna, rica em carboidratos refinados (por exemplo, macarrão e arroz branco), traz prejuízo ao nosso pâncreas e ao nosso estoque de cromo. O carboidrato refinado requer cromo para ser metabolizado e, além disto, não contribui para repor o estoque necessário para que o organismo funcione sadiamente. Arroz branco contem 25 % do cromo presente no arroz integral. Farinha branca contem somente 13 % do cromo presente no trigo. Muitas pessoas são deficientes em cromo por consumirem uma dieta restrita a alimentos refinados. Boas fontes do mineral são a levedura de cerveja, ostra, fígado, noz, batata, trigo e farinha integral, pimenta preta e queijos.
Esportistas que treinam para competição podem precisar de suplemento alimentar contendo cromo. Porém, se houver excesso na dosagem há o risco da toxicidade, pois o organismo somente absorve a quantidade necessária. O esportistas de elite trabalham em equipe com outros profissionais do esporte. Nestas condições, o risco de uma super dosagem no esporte competitivo deve ser pequeno. Por outro lado, há grande risco nas academias, onde pessoas – na sua maioria jovens – que procuram uma atividade saudável, fazem uso de suplementos alimentares sem ter orientação profissional adequada. Vale a pena ressaltar que o risco não é somente a super dosagem, pois há estudos científicos que mostram que quantidades não tóxicas de determinados compostos de cromo causam danos significativos em cromossomos. Por estes motivos, aquelas pessoas que querem ou precisam de complementação alimentar devem consultar profissionais especializados.


 

A presença do cromo na indústria

O elemento químico cromo é empregado principalmente para fazer aços inoxidáveis e outras ligas metálicas. Na forma do mineral cromita, é empregado na indústria de refratários para fazer tijolos de fornos metalúrgicos. Compostos de cromo produzidos pela indústria química são usados na indústria de tratamentos superficiais (por exemplo, a eletrodeposição de cromo, conhecida na indústria de galvanoplastia e o processo por cromado), manufatura de pigmentos, curtume de couro, tratamento de madeira e tratamento de água (podendo ser usado como inibidor da corrosão na água usada em torres de resfriamento).
Cuidados especiais são necessários tanto na manipulação durante o processo industrial como no tratamento dos resíduos. Os resíduos possuem alto poder de contaminação, quando não são convenientemente tratados e simplesmente abandonados em corpos d’água, aterros industriais ou mesmo lixeiras clandestinas. Com facilidade, o cromo atinge o lençol freático ou mesmo reservatórios ou rios que são as fontes de abastecimento de água das cidades. Se o resíduo é degradado no solo, o cromo permanece e pode ser absorvido por plantas que posteriormente servirão de alimento diretamente ao homem ou a animais, podendo por este caminho também atingir o ser humano.
Cromo(VI) é um carcinógeno humano reconhecido e muitos trabalhadores são expostos a este composto químico. A fumaça contendo este elemento químico causa uma variedade de doenças respiratórias, incluindo câncer. O contato da pele com compostos de cromo causa dermatite alérgica e, mais raramente, pode provocar ulcerações na pele formando cicatrizes e até perfurações do septo nasal. Há suspeitas de que este composto químico possa afetar o sistema imunológico de seres humanos.

A presença do cromo em Hollywood e no Brasil

O filme “Erin Brockovich - Uma Mulher de Talento”, além da beleza e a interpretação de Julia Roberts (que ganhou um Oscar por sua atuação), conta a história dos trágicos efeitos da contaminação por cromo da população de uma cidade americana. A história é baseada em fato verídico. A personagem, ao organizar arquivos de uma ação judicial, depara-se com alguns registros médicos que a intrigam. Decide investigar e acaba descobrindo que uma indústria vinha contaminando as águas de uma pequena cidade e, por este motivo, muitas pessoas haviam contraído câncer. Como resultado, a empresa foi condenada a pagar uma indenização milionária.
A história contada no filme não está longe de nossa realidade. As quantidades de cromo que são liberadas no meio ambiente por nossas indústrias é preocupante.
Para se ter uma idéia desta questão no Brasil, vale a pena exemplificar com a indústria de curtimento do couro. A atividade industrial dos curtumes é intensiva em mão de obra mas pouco agrega em termos de tecnologia. É por isso, larga e facilmente disseminada em muitas comunidades do país. Na indústria de curtume (e de forma semelhante na indústria de galvanoplastia) o tratamento dos efluentes industriais gera um resíduo sólido que é denominado de lodo e que contém cromo. O lodo é acondicionado em recipientes, pode ir para incineradores ou deve ser guardado indefinidamente em condições ótimas, ao abrigo de intempéries, insolação e outros agentes que possam romper o recipiente e espalhar o resíduo na natureza. O responsável pelo material obriga-se a esses cuidados que são supervisionados e inspecionados pelas autoridades periodicamente. Os altos custos, decorrentes do armazenamento e/ou da incineração, induzem a comportamentos inadequados, como o descarte de resíduos em locais impróprios. Deve-se considerar, também, que nem todos os Estados possuem aparato com condições técnicas de aconselhar e vigiar o funcionamento de empresas que utilizam o cromo em seus processos.
O gigantismo do problema pode ser avaliado se for considerada a produção significativa da indústria calçadista brasileira e, somado a este fato, que nos curtumes o couro processado gera quantidades apreciáveis de resíduos: de 30 a 50 % de resíduos tais como lodo, serragem da rebaixadeira e pó da lixadeira (todos contendo cromo na sua composição). Além disto, existem regiões no Brasil em que complexos industriais do setor calçadista com centenas de indústrias, produzindo dezenas de toneladas por dia de retalhos de couro que são depositados em aterro industrial (do tipo I destinado para resíduos perigosos).
Nas várias cidades brasileiras, onde existem aglomerados industriais de couro e calçado há um conflito latente devido ao rápido esgotamento da capacidade dos aterros e necessidade de criação de novos. Os resíduos da indústria de couro e de calçado comprometem o meio ambiente, principalmente, sob dois aspectos. O tempo considerável de degradação desses retalhos faz com que o solo fique sem uso por várias gerações. Vale a pena lembrar que o processo de curtimento é feito justamente para retardar a putrefação do couro. Outro aspecto importante é o efeito de concentração do cromo no solo devido às grandes quantidades depositadas nos aterros de retalhos.

A presença do cromo no meio ambiente das futuras gerações

A sociedade brasileira está tomando consciência do conceito de desenvolvimento sustentável. A noção de sustentabilidade é entendida como o novo paradigma do desenvolvimento humano, cujo objetivo é conciliar justiça social, equilíbrio ambiental e eficiência econômica. Espera-se que as novas gerações não ajam como as gerações passadas, que viam os recursos da natureza como inesgotáveis e o crescimento econômico sem limites. O desenvolvimento sustentável é um novo paradigma que está, de forma gradual e negociada, resultando em um plano de ação e de planejamento participativo nos níveis global, nacional e local.
A sociedade brasileira está dando sinais de amadurecendo neste sentido. Muitas organizações não governamentais, tem tido um papel importante nesta questão, conscientizando e reivindicando uma melhor qualidade de vida para o cidadão. O estado, também, participa cada vez mais ativamente aplicando políticas públicas que auxiliam à sociedade encontrar um equilíbrio entre o meio ambiente e a atividade econômica. Paralelamente, nas últimas décadas, o estado tem se aparelhado melhor para encaminhar este assunto, conceitualmente e tecnicamente.
Os empresários, individualmente e participando de associações de classe, tem percebido que sem um meio ambiente sadio os negócios estão sob risco. A sobrevivência da empresa não é possível sem recursos naturais disponíveis.
A empresa poluidora está desperdiçando os seus recursos (energia, matéria prima e insumos, mão de obra e capital) e gastando (a empresa ou a sociedade) mais recursos para diminuir os danos ambientais. Este tipo de empresa é, certamente, uma empresa ineficiente. Ineficiente para si e para a sociedade. A empresa poluidora tem vários tipos de prejuízos, entre eles: a imagem de seus produtos e a perda de mercado no comércio internacional (barreiras alfandegárias verdes). Desta forma, a perda da capacidade competitiva é o principal prejuízo que os empresários percebem hoje. Cabe destacar, também, que a universidade brasileira e institutos de pesquisa estão participando desta questão, cada vez mais, ativamente. Muitos são os projetos que tratam da questão ambiental. Os esforços de pesquisa tem-se direcionado ao desenvolvimento de soluções adequadas para nossos problemas. Por exemplo, no caso dos resíduos de cromo na indústria couro-calçadista há um grande número de trabalhos, finalizados e em desenvolvimento, que levam em conta as condições locais e são realizadas com o apoio de amplos setores empresariais.
Certamente, o nossa entrada para o mundo desenvolvido só será possível com a conciliação da justiça social, equilíbrio ambiental e eficiência econômica. Sem esta condição estabelecida as “Brockovichs” se manifestarão dentro e fora do país e, rapidamente, de país “Rico por Natureza” passaremos a ser conhecidos pelo país de “Risco para a Natureza”.

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